Fartura de vida

Uma mesa repleta de amores, deleites e prazeres em contraposição ao sentimento de fastio e revolta que já está por um fio.

Este é o mote de Mesa Farta, “espetáculo celebrativo” do grupo Pretagô com pré-estreia nos dias 15 e 16/fevereiro (sábado e domingo), no Teatro Renascença, como parte da programação de encerramento do Festival Porto Verão Alegre 2020.

Não é a primeira vez que o Pretagô reverencia a alegria e a indignação dos territórios negros de Porto Alegre.

O tema está presente também em AfroMe (Prêmios Açorianos de Melhor Produção e Braskem Em Cena de Melhor Espetáculo do Júri Popular, ambos em 2016), espetáculo protagonizado dentro do Boteco do Paulista e na calçada em frente ao bar, no Centro Histórico de Porto Alegre, e na peça de estreia do grupo, Qual a Diferença Entre o Charme e o Funk? (Açorianos de Melhor Trilha Sonora, em 2015).

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O anfitrião de Porto Alegre

Eduardo Titton, de 33 anos, criador de três bares que estão em qualquer lista dos mais inovadores de Porto Alegre – Agulha, Linha e Vasco da Gama, 1020 –, prepara-se para lançar um quarto projeto na noite da Capital: uma vermuteria no 4º Distrito.

Aberto em agosto de 2017, em sociedade com o mano Fernando, o Agulha é, atualmente, o principal palco das vertentes contemporâneas da música popular em Porto Alegre.

O Linha conta com bar e espaço para sessões de cinema, performances de dança, oficinas e workshops, além de ateliês individuais e compartilhados para artistas visuais.

Em parceria com o chef Mauri Olmi, Eduardo, Fernando e Bruna se preparam para abrir uma vermuteria a uma quadra do Linha, no cruzamento da Rua Moura Azevedo com a Avenida Presidente Roosevelt, em prédio construído em 1917, que fica em frente à antiga sede do Clube Sociedade Gondoleiros.

Eduardo jura de pés juntos que a vermuteria é o último negócio a ser posto em prática. Ah, espera aí, ele lembrou agora de mais uma ideia que está na gaveta – o projeto de uma livraria. Não conta para ninguém, mas já andou até batendo pernas pelo Bom Fim à procura de um imóvel, tudo por conta da vontade de criar espaços de boa convivência e cultura de qualidade. Porto Alegre agradece.

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O traço do anarquista

— Às vezes, bate um medo quando começo a desenhar. Fico pensando em milícias e outras forças do submundo que podem agir por aí. Eu não imaginava que pudéssemos regredir tanto.

A afirmação foi feita pelo cartunista Neltair Rebés Abreu, o Santiago, ao participar do lançamento do livro Rua da Margem – Histórias de Porto Alegre, no bar Parangolé, no sábado dia 14/dezembro. Personagem de um dos capítulos da obra, Santiago foi entrevistado pelo autor, o jornalista Paulo César Teixeira, editor do Rua da Margem.

Com 18 livros publicados e dezenas de prêmios acumulados ao longo da carreira, o desenhista colabora atualmente com os jornais Extra Classe, do Sinpro/RS (Sindicato dos Professores da Rede Privada) e João de Barro, da APCEF (Associação do Pessoal da Caixa Econômica Federal), além da revista do CREA/RS (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia). Os cartuns de Santiago estão presentes também no Brasil de Fato RS, publicação que acaba de lançar edição especial de humor.

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Gente da noite

Quem olha a figura com ares alternativos, que atende os clientes do bar I Love CB, nem desconfia que ali está um trabalhador experiente e calejado. Carlos Eduardo Caldeira Medronha, o Dudu, de 34 anos, ganha a vida em bares da Cidade Baixa desde 2002. Nem deu para sentir o tempo correr, mas metade da vida ele passou como operário da noite porto-alegrense.

O currículo é invejável – com carteira assinada ou como freelancer, ele passou pelo 8 e Meio, Pé Palito, Bahamas, Yang, Funilaria, Tapas, Entreato... Ufa, a lista é longa – de quebra, ainda serviu almoço no Ocidente por algum tempo. Difícil é apontar qual o bar relevante da CB que não contou com os préstimos do rapaz.

Como quase todo mundo que trabalha na noite, Dudu sonha montar, no futuro, um boteco que reúna as qualidades de cada um dos locais que ajudou a construir.

— Um dia vou fazer o melhor bar de Porto Alegre, diz, rindo em seguida, como se reprovasse a audácia da frase que acabou de proferir.

Ele tem até um caderninho no qual vai anotando detalhes de bebida, comida e decoração que não poderão faltar, mas isso é segredo, como também não dá para adiantar os nomes que especula para a futura casa.

— Sabe como é, alguém pode copiar, justifica ele, pedindo licença para atender a freguesia que, a essa altura, já ocupa com alegria e intimidade o espaço aconchegante do I Love CB.

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Temporada no Sul

Filho de Taiguara, um dos compositores brasileiros mais destacados entre as décadas de 1960 e 1980, o carioca Samora Potiguara, de 37 anos, aproveita temporada na casa de parentes em Porto Alegre para mostrar seu trabalho musical nos bares da Cidade Baixa. Na sexta-feira, 18/10, por exemplo, ele faz show de voz e violão no bar Guernica, na Travessa dos Venezianos, 44, apresentando uma mistura original de MPB e soft rock e, claro, revisitando sucessos do pai.

Embora resguarde a consciência crítica acerca do mundo em que vive, a exemplo da obra de Taiguara, as canções de Samora apontam para múltiplas referências, que incluem desde a universalidade do som dos Beatles até o estilo progressivo de The Alan Parsons Project, passando pelo rock alternativo de Pearl Jam e bandas brasileiras dos anos 1980 como Barão Vermelho, Legião Urbana e Ira!.

— Fora isso, tenho a pretensão de agregar à música que faço elementos percussivos do candombe uruguaio e de outros batuques originários da África sem perder a pegada pop. A meu ver, o rock nada mais é do que a evolução de um processo musical que tem início na cultura africana.

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O bofe nas vilas de malocas

A homossexualidade masculina foi um dos argumentos usados como justificativa para a transferência da população pobre de Porto Alegre de áreas centrais para a periferia da cidade no século passado.

Essa é a afirmativa do historiador Rodrigo Weimer após estudar dados de um relatório administrativo sobre as “vilas das malocas” (hoje denominadas favelas) apresentado em 1952 pela prefeitura da capital gaúcha na Câmara de Vereadores. A conclusão é exposta por Weimer em artigo publicado há pouco mais de um mês pela revista Aedos, do PPG em História da UFRGS.

O relatório elaborado durante a gestão do prefeito Ildo Meneghetti aponta evidências de alcoolismo, prostituição e comportamento sexual não-normativo como exemplos de “sujeira moral”, “quisto social” e “situação anômala” no cotidiano dos favelados, o que teria servido de argumento e pretexto para a posterior expulsão dos “maloqueiros” para áreas distantes do Centro. Textualmente, o documento histórico afirma que casos “palpáveis surgiram à tona durante a pesquisa, demonstrando que, se bem que em extremos, até que ponto pode chegar a imoralidade nesses grupamentos humanos”.

— Constata-se que, sob um viés moralista e uma visão preconceituosa, a sexualidade desviante foi considerada abjeta e, mais do que isso, aproximada à realidade da “maloca”, ela, também, impregnada de atributos pejorativos, destaca Weimer.

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Com a cara dos anos 80

Uma das mais emblemáticas bandas dos anos 1980 está de volta. Lançado nas plataformas digitais na sexta, dia 23/8, o álbum MiniMundo reúne as canções anárquicas e transgressoras do Atahualpa Y Us Punquis, grupo que costurou de modo peculiar e intransferível influências de pop básico, punk rock, música serialista e atonalismos sob a batuta de Carlos Eduardo Miranda, o Gordo Miranda, músico e produtor responsável pela formatação de boa parte do rock nacional nas últimas três décadas.

O show de lançamento de MiniMundo, álbum do selo YB, de SP, acontece na segunda-feira, dia 26/8, na Segunda Maluca do bar Ocidente, em Porto Alegre. Outras duas apresentações estão agendadas em São Paulo – dia 10/9, no Centro da Terra, em Perdizes, e em 12/9 no Mundo Pensante, no Bixiga, com a Orquestra da Depressão Provinciana, contando ainda com as participações especiais de Gabriel Thomaz, Marcelo Gross e Beto Bruno. 

O disco foi gravado em março deste ano no Estúdio IAPI, na zona norte de Porto Alegre. Além das canções do Atahualpa, inclui Pop Básico, música inédita feita por Carlinhos Carneiro para a ocasião. Se, por um lado, MiniMundo constitui o resgate de um repertório representativo de uma época fecunda do rock, também surpreende pelas melodias agradáveis, com letras inteligentes e afiadas.

— Num momento distópico, num lugar que se tornou surreal, nada como uma boa dose de poesia atemporal e um chute na bunda com boa dose de punk, rock e qualquer loucura que seja, resume Flávio Flu Santos.

Com certeza, o Gordo Miranda ficaria orgulhoso e diria: “É isso aí, velhinho!”. 

 

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O triunfo do rock de garagem

O rock está em festa. Os Replicantes estão completando 35 anos de atividades – a banda surgiu numa garagem da Rua Marquês do Pombal, na fronteira do Moinhos de Vento com a Floresta, sob o ritmo frenético do punk rock, em 1984.

Desde o começo, as letras de contestação e puro deboche abordam temas que vão do consumo supérfluo e o ativismo de boutique à opressão humana por instituições como o estado, a família e a igreja. Tudo isso envolto num clima de ficção científica – não custa lembrar que replicantes eram os androides de Blade Runner, filme de Ridley Scott lançado em 1982.

Em três décadas e meia, foram compostas mais de 100 canções registradas em 13 álbuns e três DVD’s, com reconhecimento de público e crítica – Surfista Calhorda, por exemplo, está no playlist das “100 músicas que você precisa escutar” do livro Curtindo a Música Brasileira – Um Guia Para Entender e Ouvir o Melhor da Nossa Arte, de Alexandre Petillo. Referência do rock nacional, em três excursões à Europa passaram por palcos de França, Suécia, Alemanha, Suíça, Noruega, Finlândia, Bélgica e Holanda. 

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Os caminhos do Santiago

— O desenhista é movido à indignação. Humor gráfico sem posicionamento crítico não funciona, afirma Neltair Rebés Abreu, 68 anos, o Santiago, como é mundialmente conhecido.

Santiago se transformou num dos desenhistas de humor mais premiados do Brasil – quando a coleção de troféus ultrapassou a marca de quatro ou cinco dezenas, ele parou de contar. O reconhecimento vem de salões de humor promovidos em países como França, Espanha, Alemanha, Canadá, Japão, Bulgária e Turquia, entre outros. Sem falar nas premiações nacionais – no Salão Internacional de Humor de Piracicaba, por exemplo, foi tantas vezes agraciado que ganhou o cargo de "presidente de honra" do evento, em 1991.

Em 1994, a revista Witty World incluiu Santiago na seleta lista dos 13 melhores desenhistas do mundo no gênero gag cartoon (cartum de uma só cena), ao lado de celebridades como Quino, Sempé e Aragonés.

Dos 18 livros já publicados, um dos que mais gosta é Retroscópio (LP&M Pocket, 2010), narrativa histórica em forma de desenhos, que inicia com a descida do homem à Lua, em 1969 – um cartum amador, que não havia sido publicado antes –, até o registro da eleição do primeiro presidente negro dos Estados Unidos, Barack Obama, em 2008.

Atualmente, colabora com os jornais Extra Classe, do Sinpro (Sindicato dos Professores da Rede Privada), João de Barro, da APCEF (Associação do Pessoal da Caixa Econômica Federal) e Brasil De Fato RS.

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As cores do invisível

Nos anos que sucederam a abolição da escravatura no Brasil, em 1888, os negros que haviam se libertado do jugo de seus senhores coexistiram em áreas pobres e degradadas de Porto Alegre com imigrantes europeus, não apenas italianos e alemães, mas também judeus, pomeranos e poloneses.

Como eram as relações entre essas duas populações de trabalhadores é o tema de Além da Invisibilidade: História Social do Racismo em Porto Alegre durante o Pós-Abolição (EST Edições), livro lançado no dia 5/7 pelo historiador Marcus Vinícius de Freitas Rosa.

Uma das descobertas da investigação é a de que, mesmo entre populações pobres, a discriminação por causa da cor se sobrepunha ao nivelamento social, como destaca o historiador:

— A pele branca era um trunfo para os trabalhadores pobres de origem europeia, ainda que fossem todos, brancos e negros, miseráveis, morando à beira de um riacho imundo. É como se dissessem: “Pelo menos, somos brancos”.

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A saideira do Dinarte

Desde o guri arteiro do Vale do Taquari e o rapazinho assustado recém-chegado em Porto Alegre até o aprendiz das madrugadas. Também não ficam de fora o estudante incansável e o advogado combativo, muito menos o marido apaixonado e o pai amoroso.

Todas as faces de um dos mais populares e queridos garçons de Porto Alegre estão expostas em textos e imagens em De Bandeja – A História de Dinarte Valentini (Editora Arvoredo Books, 123 páginas), livro que traz depoimento prestado ao jornalista e pesquisador Marcello Campos. O lançamento é na terça-feira, 25/6, a partir das seis e meia da tarde, no Bar do Beto.

– Gosto de ler desde criança e esse livro é a realização de um sonho, que venho construindo há duas décadas, desde que retomei os estudos. Espero que também sirva como exemplo de vida. Afinal, boa parte do caminho que percorri até agora não deixa de ser um resumo das alegrias e dificuldades de uma rapaziada que deixa o Interior gaúcho em busca de oportunidades, afirma Dinarte.

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