Fartura de vida

Pretagô estreia espetáculo que celebra abundância de alegria e prazer no cotidiano dos territórios negros

Mesa Farta é a quarta montagem do grupo, cuja obra reverencia a felicidade e a indignação da população negra de Porto Alegre (Foto/Anelise de Carli)

Mesa Farta é a quarta montagem do grupo, cuja obra reverencia a felicidade e a indignação da população negra de Porto Alegre (Foto/Anelise de Carli)

Uma mesa repleta de amores, deleites e prazeres em contraposição ao sentimento de fastio e revolta que já está por um fio.

Este é o mote de Mesa Farta, “espetáculo celebrativo” do grupo Pretagô com pré-estreia nos dias 15 e 16/fevereiro (sábado e domingo), no Teatro Renascença, como parte da programação de encerramento do Festival Porto Verão Alegre 2020.

Composta por uma sequência de cenas curtas, entremeadas por paródias musicais, a montagem é a mais performática encenada até agora pelo grupo criado no Departamento de Arte Dramática da UFRGS, em maio de 2014, que se apresenta desde então como um “quilombo de artistas dedicado à pesquisa sobre identidade e representatividade da pessoa negra nas artes da cena”.

— Buscamos a fartura porque estamos fartos – diz Thiago Pirajira, que assina a direção da peça, ao brincar com o jogo de palavras que está por trás do título do novo trabalho.

No palco, três atrizes – Silvana Rodrigues, Laura Lima e Manuela Miranda – e um ator – Bruno Fernandes – contracenam em torno de uma mesa apinhada de elementos que exaltam a abundância de experiências sensoriais da vida cotidiana das populações negras.

— Não que a gente renegue a história e o presente de violência que derivam do racismo estrutural do Brasil, apenas escolhemos, desta vez, trazer para a cena uma afirmação positiva da experiência negra, como forma de dar complexidade à discussão a partir de um lugar de potência de vida — afirma o diretor da peça.

Além de integrar o Pretagô, Pirajira faz parte do Bloco da Laje, que reconfigurou o carnaval de rua da capital gaúcha ao combinar crítica social e celebração do prazer em seus desfiles.

Peça exalta experiência sensorial do cotidiano das populações negras em contraposição ao ódio e à violência do racismo estrutural da sociedade brasileira (Foto/Thiago Pirajira)

Peça exalta experiência sensorial do cotidiano das populações negras em contraposição ao ódio e à violência do racismo estrutural da sociedade brasileira (Foto/Thiago Pirajira)

Não é a primeira vez que o Pretagô reverencia a alegria e a indignação dos territórios negros de Porto Alegre.

O tema está presente também em AfroMe (Prêmios Açorianos de Melhor Produção e Braskem Em Cena de Melhor Espetáculo do Júri Popular, ambos em 2016), espetáculo protagonizado dentro do Boteco do Paulista e na calçada em frente ao bar, no Centro Histórico de Porto Alegre, e na peça de estreia do grupo, Qual a Diferença Entre o Charme e o Funk? (Açorianos de Melhor Trilha Sonora, em 2015).

Em Mesa Farta, ao contrário das montagens anteriores do Pretagô, a trilha sonora construída por Pirajira e João Pedro Cê não é executada ao vivo, o que possibilita ampliar os efeitos oriundos de experimentações de estúdio. Após as apresentações do fim de semana, a peça deverá ingressar em temporada oficial em abril deste ano, também no Teatro Renascença.