Sob nova direção

Tradicional bar da rua João Alfredo, o Paraphernália vai reabrir com happy hour e novo perfil da agenda musical

Protagonista da boemia contemporânea da Cidade Baixa, o Paraphernália terá shows de rock, blues e jazz, além de MPB (Foto/Rua da Margem)

Protagonista da boemia contemporânea da Cidade Baixa, o Paraphernália terá shows de rock, blues e jazz, além de MPB (Foto/Rua da Margem)

O mais antigo bar em atividade na Rua João Alfredo está sob nova direção.

No momento, o som que ecoa na casa do número 425 da antiga Rua da Margem, próximo à esquina com a Rua da República, ainda é o ruído de marteladas e serras elétricas. O Paraphernália está passando por reformas, com adaptações na cozinha, troca de azulejos e limpeza de coifas, entre outros ajustes, para reabrir tão logo seja possível em sintonia com as medidas de restrição impostas pela legislação devido à pandemia da Covid-19. As alterações não se limitam à estrutura física do boteco:

— Vou mudar o perfil do bar, como já anunciei nas redes sociais. A repercussão da novidade está sendo excelente — relata o produtor cultural Julio Ricardo Rodenstein, que arrendou a casa noturna pelos próximos cinco anos.

A primeira mudança é o horário de abertura. O Paraphernália vai começar as atividades por volta das 7 da noite com happy hour, apresentando shows entre 10 e 11 e meia e estendendo o horário de funcionamento até 2 da madrugada.

— O objetivo é adotar a proposta europeia de começar e terminar mais cedo, embora o brasileiro goste de sair só depois da meia noite. Para isso, planejo atrair um público mais maduro, diferente daquele que fica circulando pelo meio da rua — adianta Júlio

Além disso, a agenda musical do Paraphernália passará a ter mais abrangência. Ao invés de concentrar a programação em música popular brasileira, como antes, o palco abrirá espaço também para rock, blues e jazz. A ideia é marcar cada noite da semana com um estilo musical diferente, até para facilitar o agendamento dos frequentadores, explica Julio.

A princípio, os shows serão acústicos, no modelo voz e violão, por causa das limitações determinadas pelos tempos de pandemia.

— Não dá para fazer grandes investimentos em shows com metade da ocupação. Depois, teremos estrutura para apresentação de bandas — antecipa.

O cardápio vai oferecer filés e frutos do mar, além de cerveja, vinho, espumante e drinques da casa.

Palco junto à entrada do Paraphernália terá uma agenda fixa, com gêneros musicais definidos para cada noite da semana (Foto/Divulgação)

Palco junto à entrada do Paraphernália terá uma agenda fixa, com gêneros musicais definidos para cada noite da semana (Foto/Divulgação)

A história do Paraphernália se confunde com as origens da boemia contemporânea da Cidade Baixa,

Não que o bairro já não tivesse antes uma larga tradição boêmia.

Figuras lendárias a exemplo de Lupicinio Rodrigues, frequentador assíduo de bares como Chão de Estrelas e Gente da Noite, marcaram no passado a cena noturna da Cidade Baixa. Além disso, desde a primeira metade do século XX, essa região da cidade é palco de festas populares, como o carnaval de rua, em decorrência de sua ocupação por populações negras, descendentes de escravos.

Júlio (ao centro) com King Jim (à esq.) e Justin Vasconcelos, integrantes da banda Garotos da Rua

Júlio (ao centro) com King Jim (à esq.) e Justin Vasconcelos, integrantes da banda Garotos da Rua

Mas, no início dos anos 2000, a boemia da Cidade Baixa atravessava um período de transição. Nessa época, existiam apenas três botecos de portas abertas na Rua João Alfredo – Oficina Etílica, Mercatto D’Arte e Ossip.

Em março de 2003, o Paraphernália entrou em cena como um dos protagonistas da retomada boêmia do bairro, que teria também a participação de estabelecimentos como Nega Frida, Pé Palito e 512, entre outros, ao longo da primeira década do século XXI.

Não por acaso, essa fase coincide com um movimento de revitalização da MPB nas pistas de dança, o que explica o perfil da agenda musical do Paraphernália até pouco tempo atrás.

A alteração da programação tem a ver com a trajetória do novo gestor. No currículo, Julio Ricardo tem a produção de bandas de rock como Replicantes e Rosa Tattooada, além da gestão dos bares Blue Jazz e Abbey Road. Mais recentemente, produziu o happy hour do Divina Comédia, pub dirigido ao público roqueiro.

Formado em administração de empresas, Julio também atuou como radialista na antiga Cidade FM, na década de 1990, além de participar de experiências pioneiras na internet, como a da rádio Bom Fim FM.com.

— A Bom Fim FM transmitia exclusivamente rock e MPB feitos no Estado, 24 horas por dia — destaca.

A proximidade com os músicos locais, aliás, é uma carta na manga para montar a agenda de shows do Paraphernália. Júlio pretende trabalhar com artistas como Bebeto Alves, Zé Caradípia e King Jim, com os quais mantém amizade. Ele prefere não adiantar as futuras atrações antes de fechar os contratos, mas assegura que vários nomes estão alinhavados.

— Quando a gente conhece o pessoal, fica mais fácil — finaliza o novo dono do Paraphernália.