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Um cantinho para africanos fora da África

O Afro Pub, bar inaugurado em 20 de março de 2025, e o ponto de encontro da comunidade de negros estrangeiros em Porto Alegre (a maioria formada por universitários que participam de programas de intercâmbio acadêmico).

— Não tínhamos um espaço físico onde pudéssemos cultivar as nossas raízes, escutar a nossa música, dançar a nossa dança, comer a nossa comida. Daí surgiu a ideia do Afro Pub — diz Asid Adult Man, pseudônimo do rapper Esdras Altidor.

Asid é exceção entre os fundadores do Afro Pub – é o único que não nasceu na África, e sim em Môle Saint Nicolas, cidade localizada no norte do Haiti.

Da mesma forma, havia também dificuldades de achar um lugar para comemorar as festas que ornamentam o calendário dos filhos da África, como destaca Daniel Ovono Akieme, outro fundador do Afro Pub.

Natural da Guiné Equatorial, ele veio para o Brasil há quatro anos. Após passagem por Feira de Santana (BA), se mudou para Porto Alegre, onde cursa Administração Pública na UERGS.

De fato, o Afro Pub foi criado para preencher mais essa lacuna. Prova disso é que, no sábado, dia 31 de maio, das 3 da tarde até a meia noite, o bar será palco para a celebração do Dia da África (confira informações sobre ingressos).

No barzinho da Rua João Alfredo, haverá exposição de artesanato e desfile de moda africana, além de música e dança (veja uma amostra aqui).

O jantar será servido a partir das 7 horas da noite. O menu inclui couve com amendoim e coco, xiguinha de feijão e peixe frito, além de doce de mandioca.

As comidas serão preparadas por Eulanda Maria Daniel, que nasceu em Inhambane, cidade do sul de Moçambique.

Ela vive em Porto Alegre há três anos e cursa Informática em Educação na UFRGS. Além disso, é jogadora de futebol (no momento, atua como zagueira do Futebol Com Vida, clube/SAF de Viamão).

Ainda que seja um ponto de encontro da comunidade de africanos, o Afro Pub recebe também a visita de outros públicos.

Frequentadores habituais do bairro boêmio passam na calçada e se sentem atraídos pela música que escutam. Aí decidem conhecer o espaço, como relata Salvador Osa Eyi Okomo, estudante do curso de Relações Internacionais da UFRGS.

— Qualquer um pode vir ao Afro Pub. E, se não quiser consumir, pode vir só para conversar sobre coisas da África de que não faz ideia ou sobre as quais, talvez, tenha ideias erradas — diz Salvador, que chegou à capital gaúcha há cinco anos.

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O coração da bananeira

A Banana Verde, loja pioneira na venda de produtos ecológicos não-alimentícios de Porto Alegre, está de volta às origens ao abrir uma nova loja na Avenida José Bonifácio, no Bom Fim.

Explica-se: o sobrado situa-se de frente para a Feira dos Agricultores Ecologistas, a mais antiga feira ecológica do País (fundada em 1989, aberta sempre aos sábados pela manhã). Foi justamente entre os feirantes da José Bonifácio, uma década atrás, que Felipe e Renata montaram uma banquinha que viria a ser a primeira trincheira de vendas presenciais da empresa (antes, as peças eram vendidas só pela internet).

Da banca na feirinha ecológica do Bom Fim para os tempos atuais, o negócio se expandiu, mas preservou a coerência da trajetória.

— Antes de abrirmos a loja, éramos consumidores de produtos ecológicos, além de militantes da causa ambiental. Nada foi por moda ou oportunismo — ressalta Felipe.

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Barraco cultural

Não é de hoje que o bairro Santana desata inéditas conexões e desbrava novos territórios.

Bem antes de ser domado para se mover em linha reta ao longo da Avenida Ipiranga, o arroio Dilúvio serpenteava entre ruas de diferentes áreas de Porto Alegre, obrigando a que se construíssem pontes para desobstruir a passagem. Uma delas ficava pouco adiante da esquina da Rua Santana com a Laurindo, nas costas do terreno em que hoje se localiza o Colégio Júlio de Castilhos. Construída na década de 1880, a pontezinha de madeira permitiu a travessia de bonde puxado a burro, propiciando o desenvolvimento do Partenon e de outros bairros da zona leste, antes de sumir do mapa da cidade no século seguinte.

Atualmente, a poucos metros desse reduto histórico está situado o Barraco Cultural, um dos primeiros coworkings de Porto Alegre, criado em abril de 2005 num sobrado da Rua Laurindo, que alojou em tempos remotos a fábrica de doces Piratini. A tendência de ambientes colaborativos só viria se alastrar na década seguinte, mostrando que, no século XXI, o bairro Santana ainda preserva a vocação de impulsionar mudanças na capital gaúcha.

No Barraco Cultural, 12 profissionais de moda, design, fotografia, ilustração e arquitetura, entre outros ofícios, compartilham espaço físico, além de experiências, recursos de trabalho e custos como aluguel e outras taxas. Frequentadores assíduos são também o Louco e a Mosca, cães vira-latas que pertencem ao casal responsável pela gestão da casa, o estilista Régis Duarte e o fotógrafo Tiago Coelho.

— Como residentes, somos diferentes uns dos outros e isso nos fortalece e alimenta. A arte nos integra, afirma Régis, um dos mais conceituados estilistas de Porto Alegre.

Ancorado num dos bairros mais acolhedores de Porto Alegre, com tradição em inovação, o Barraco Cultural é um dos espaços que sintoniza a capital do RS com as mais avançadas tendências contemporâneas de arte, moda e conhecimento.

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As boas novas da Travessa

A Travessa dos Venezianos está cheia de novidades. Nos últimos tempos, novos projetos de bar, café e restaurante animam um dos redutos mais encantadores de Porto Alegre, localizado na Cidade Baixa, bairro tradicionalmente marcado pela boemia e a vida cultural. A ruazinha que interliga a Joaquim Nabuco e a Lopo Gonçalves une o presente e o passado como polo cultural e turístico que guarda muita história para ser contada.

O conjunto de 17 casas de pé-direito alto, com janelas e portas que se abrem diretamente para a calçada, foi construído no início do século XX para abrigar a população pobre do bairro, em especial antigos escravos e seus descendentes. Apareceu pela primeira vez no mapa da cidade em 1935 e foi tombado como patrimônio histórico e cultural em 1980.

Numa das casinhas, está o bar Guernica, que em pouco tempo – foi aberto em março deste ano – ganhou lugar cativo na agenda da comunidade alternativa da CB. É um dos pontos de maior prestígio no circuito underground da cidade, em boa parte devido ao ambiente de simplicidade e acolhimento da própria construção, complementado pelo atendimento próximo e despojado. Outros pontos fortes são o cardápio inspirado na gastronomia artesanal e vegana, além da programação musical de qualidade, com ênfase em samba, música latino-americana e ritmos nordestinos.

Especializado em cafés especiais, fica aberto da uma da tarde às nove da noite, de terça a domingo, na casinha do nº 36, na qual Darquilene Magalhães, a Darqui, morou com o companheiro, o geólogo Lucas da Motta, durante quatro anos. Quando nasceu o filho Ravi, o casal decidiu se mudar para local mais espaçoso e confortável. Então, transformou a moradia num espaço comercial, que, além de cafés especiais, também oferece comidinhas artesanais, algumas das quais produzidas pela própria dona, como o cheesecake e a coxinha vegana, além dos bolinhos.

As casas geminadas da Rua Joaquim Nabuco, localizadas próximas à esquina com a travessa, guardam sintonia com o ambiente da Venezianos. É o caso da construção que aloja o restaurante AlimentArte Consciente, no nº 401.

— Aqui vibramos na mesma energia da Travessa, assegura o filósofo Santiago Tesla, argentino da Patagônia. Ele é o chef de cozinha e também sócio do negócio gastronômico, junto com a relações públicas Letícia Lançanova.

O cardápio combina receitas veganas e vegetarianas com sucos naturais e sobremesas em clima casual, de terça a domingo em dois horários – de onze e meia da manhã às duas e meia da tarde para o almoço, reabrindo das seis e meia até onze da noite para o jantar. O nome do restaurante sugere um diálogo entre arte e gastronomia, indicando que tudo ali servido é resultado de muito cuidado e inspiração.

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