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Jekyll à solta

Após marcar época com o bar Dr. Jekyll, na Cidade Baixa, os gêmeos César e Paulo Audi transformam café em ponto de encontro no Centro Histórico e preparam nova incursão na cena noturna.

Os donos do Cine Café, abrigado na Travessa dos Cataventos – corredor de paralelepípedo que divide as duas alas do prédio da Casa de Cultura Mario Quintana, ligando a Rua da Praia à Sete de Setembro –, são os irmãos gêmeos César e Paulo Audi, de 56 anos,

Antes de abrir o ponto na Casa de Cultura, os gêmeos ficaram conhecidos pela concepção de alguns dos mais emblemáticos bares noturnos de Porto Alegre das últimas décadas, especialmente o Dr. Jekyll, fundado em 1996 na Travessa do Carmo, junto ao Largo da Epatur.

O nome do bar era inspirado no filme O Médico e o Monstro, clássico de horror dirigido por Victor Fleming em 1940, com Spencer Tracy, Ingrid Bergman e Lana Turner.

Na trama baseada no livro O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde, de Robert Louis Stevenson, publicado em 1886, um médico de bons modos – para demonstrar a teoria de que o bem e o mal coabitam o coração humano – inventa uma porção capaz de trazer à tona o lado demoníaco de cada pessoa.

Ao experimentar ele próprio a fórmula química, algo dá errado e o cientista perde o controle de sua personalidade oculta (Hyde é um trocadilho com o verbo hide, que significa esconder, ocultar).

O conceito da casa noturna dos Audi flertava com os paradigmas do conto de horror:

– O pessoal entrava de um jeito e saía de outro. A bebida alcoólica é também uma porção que faz brotar o lado oculto das pessoas, diz Paulo.

Mas, no caso do Dr. Jekyll da Cidade Baixa, as transformações eram para o lado do bem. As alterações de personalidade faziam, por exemplo, com que as distinções de raça, credo e status social ficassem do lado de fora.

– Não havia frescura em relação à roupa que a pessoa estava usando ou à classe social a que ela pertencia. Os clientes tiravam as máscaras quando entravam no bar, observa César.

Cientistas malucos à parte, o Dr. Jekyll era como se fosse “a sala estar de uma grande família”, compara Paulo, por causa da descontração e da simplicidade que predominavam no ambiente. A tal ponto que, com tanto Mr. Hyde à solta no salão, nunca houve uma briga lá dentro.

– Mais parecia um clube do que um bar. A turma tinha até caderninho para anotar as despesas e pagar no fim do mês, assinala César.

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O pé-sujo mais alternativo da cidade

Um dos mais antigos e queridos redutos boêmios de Porto Alegre, o Bambu's está outra vez em alta.

Um novo ciclo se inaugura e a calçada em frente ao número 394 da Avenida Independência está de novo lotada de gente.

Com as portas abertas desde 1976, o bar frequentado nas duas últimas décadas principalmente por roqueiros e fãs de bandas de rock passou por altos e baixos.

No auge do movimento, a aglomeração de duas mil a três mil pessoas (quem contou ao certo?) fechava a pista da avenida e ainda transbordava pelas ruas laterais.

Em compensação, houve época em que só os clientes fiéis batiam ponto.

Não é de se estranhar – boêmios são volúveis e sujeitos a paixões efêmeras. Mas, quase sempre, retornam aos locais que os acolhem com lisura e simplicidade.

Afinal, nesses lugares, a ilusão de uma vida intensa e vibrante, repleta de sonhos ao alcance da mão, atravessa a madrugada.

Otto Guerra, às vezes, se pergunta como um bar frequentado por gerações de outsiders por excelência, com as quais ele se identifica, consegue perdurar por tanto tempo. Ele próprio se arrisca a dar uma resposta:

– Talvez porque esse mundo subterrâneo, à margem da moda, persista apesar das adversidades, e com ele resista o Bambu's, como um pé-sujo de personalidade única e intransferível.

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