Um pano de liberdade

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Marco do design contemporâneo, bandeira do arco-íris é herança das marchas de protesto da década de 1970

Um dos principais símbolos do movimento LGBT, a bandeira do arco-íris apareceu pela primeira vez em San Francisco, em 25 de junho de 1978, na Marcha do Dia da Liberdade Gay nos Estados Unidos. Naquela data, cerca de 30 voluntários ajudaram o criador do design, Gilbert Baker, a pintar à mão o pano original com oito cores, cada uma delas com um significado especial.

Assim, o rosa representava a sexualidade; o vermelho, a vida; o laranja, a cura; o amarelo, a luz do sol; o verde, a natureza; o turquesa, a magia e a arte; o anil, a harmonia e a serenidade; e, por fim, o violeta simbolizava o espírito humano.  Algum tempo depois, Baker retirou o rosa e o anil, além de substituir a cor turquesa pela azul.

Homenagem a Baker em junho de 2017, em San Francisco (Foto de Mitch Altman)

Homenagem a Baker em junho de 2017, em San Francisco (Foto de Mitch Altman)

Para se ter ideia da relevância do ícone LGBT, o Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMa, adquiriu a bandeira em 2015 para sua coleção de obras por considerá-la um “poderoso marco histórico do design”. Na ocasião, Baker explicou que, quando criou o símbolo, pretendia transmitir uma ideia de diversidade e inclusão, usando “algo da natureza para representar que a sexualidade é um direito humano”. E acrescentou: “Decidi que tínhamos de ter uma bandeira que nos encaixasse num símbolo, o de que somos pessoas, uma tribo”. 

Nascido numa cidadezinha do Kansas, em 1951, Baker aprendeu a costurar inspirado pelo ambiente de uma pequena loja de roupas pertencente à avó. Nos anos 1970, após servir ao Exército na Califórnia, ele se radicou na costa oeste americana.  Lá, encontrou um cenário efervescente de marchas contra a Guerra do Vietnã e a favor dos direitos civis, às quais aderiu com entusiasmo. 

A bandeira foi criada a pedido de Harvey Milk, primeiro gay eleito a um cargo público (supervisor da cidade, equivalente a vereador no Brasil) na Califórnia. Assassinado pouco tempo depois da Marcha, em novembro de 1978, o político teve sua história relatada no filme Milk, de Gus Van Sant, protagonizado por Sean Penn, em 2008. As faixas e bandeiras usadas nas filmagens foram recriadas pelo próprio Baker.

Embora tenha desenhado tão poderoso símbolo, Baker recusou-se a registrar a bandeira como sua marca. Hipertenso, ele morreu dormindo, em sua casa, em Nova York, em 31 de março de 2017. Em 2 de junho deste ano, data em que completaria 66 anos, foi homenageado com um doodle (ilustração animada) pelo Google. 

De 150 participantes para uma multidão de seguidores

Parada Livre de 2014 em Porto Alegre (Foto de Filipe Castilhos)

Parada Livre de 2014 em Porto Alegre (Foto de Filipe Castilhos)

Em Porto Alegre, a bandeira do arco-íris criada por Gilbert Baker foi destaque na 21ª Parada Livre – evento que celebra a diversidade sexual e promove a defesa dos direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais – no domingo, 26 de novembro, no Parque da Redenção. Desta vez, a manifestação adotou como tema Berro contra os retrocessos, reivindicando a união dos movimentos sociais contra os retrocessos que atingem o País em termos políticos e comportamentais. Ao longo da tarde, um público estimado em 30 mil pessoas acompanhou as atrações conduzidas por cinco artistas e representantes da cena LGBT da capital gaúcha – Valéria Houston, Glória Crystal, Charlene Voluntaire, Heinz Limaverde e Cassandra Calabouço.

Em sua primeira edição na capital gaúcha, em 1997, a Parada Livre atraiu 150 seguidores. Em 1998, já eram dois mil participantes. O público cresceu de modo significativo nos anos seguintes, a tal ponto que, em 2005, atingiu a marca de 100 mil pessoas, recorde para o qual contribuiu a realização simultânea do 5º Fórum Social Mundial na cidade.

Em 2017, pela primeira vez, a Parada Livre não contou com ajuda da Prefeitura, que nas edições anteriores disponibilizava a estrutura de palco e equipamentos. Por isso, as entidades organizadoras buscaram o apoio da sociedade civil através de parcerias e patrocínios para realizar o evento, que apresentou uma conotação política mais veemente desta vez: “No atual cenário político, percebemos que os setores conservadores da sociedade, muitos deles representados por partidos ligados a religiões pentecostais, têm disseminado discursos de ódio e preconceitos. Esses discursos criaram um cenário que legitima a violência física e verbal contra a população LGBTT”, afirma Célio Golin, do Nuances – Grupo pela Livre Expressão Sexual, uma das entidades que organizam o evento.

 

Paulo César Teixeira