Posts tagged Travessa dos Venezianos
Casa viva

No cenário da Cidade Baixa, bairro de Porto Alegre onde sobrevivem resquícios de uma vida simples e despojada, aquele senhor não se constrangia ao sair para a rua com as roupas confortáveis que usava em casa, mesmo que fosse para cumprir compromissos que, teoricamente, exigiam alguma formalidade.

Quando recebeu uma homenagem na Fundação Ecarta, na Avenida João Pessoa, por exemplo, não achou preciso tirar o chambre – apenas envergou por cima um pala para se proteger do frio.

Não é de admirar que adotasse a mesma indumentária em atividades menos solenes, como almoçar no pé-sujo da Rua Lima e Silva, a dois quarteirões de casa. Neste caso, agregava um par de rústicos tamancos, daqueles típicos do homem do campo, que, afinal de contas, ele nunca deixou de ser.

Estamos falando de Diógenes Oliveira, figura de carne e osso que foi protagonista de alguns dos momentos históricos mais ricos e conturbados da história do Brasil.

Diógenes participou da Campanha da Legalidade, pegou em armas para combater o regime militar instaurado em 1964, foi preso e torturado nos porões da ditadura e passou por quase uma dezena de países durante o exílio, que durou 23 anos.

Agora, dá nome ao mais novo Ponto de Cultura aberto na Cidade Baixa, mais precisamente na Rua Lopo Gonçalves, 495, endereço em que morou durante 36 anos.

— Meu pai foi um guerreiro, que enfrentou condições completamente adversas e se manteve íntegro pela vida toda – afirma o jornalista Guilherme Oliveira, de 36 anos, responsável (junto com o irmão, o advogado Rodrigo, dois anos mais velho) pela ideia de transformar o sobrado da Lopo Gonçalves no Ponto de Cultura Diógenes Oliveira.

Read More
Histórias do samba rock

Delma Gonçalves e Leleco Telles (falecido em 2004) são personagens centrais de uma rica história da cultura popular, que será o tema do Conversa de Rua – Memórias e Releituras do Suingue e Samba Rock do Sul, evento que acontece neste sábado, dia 23/setembro, a partir das 9 da noite, no bar Milonga, na Travessa dos Venezianos, na Cidade Baixa.

As canções e as histórias de vida do suingue – gênero criado por artistas negros gaúchos, na década de 1960 – serão cantadas e contadas por Delma, poetisa e compositora, junto com a cantora Joice Mara e o violonista Pedro Chaves. A condução é do jornalista Paulo César Teixeira, do Rua da MargemDelma e Leleco foram parceiros musicais de Jorge Moacir da Silva, o Bedeu, principal expoente do suingue, que mistura elementos tradicionais do samba com influências da música internacional, como rock, jazz e blues. 

Ele é autor de canções de sucesso nacional na voz de artistas como Bebeto, Wilson Simonal, Originais do Samba, Branca di neve, Jair Rodrigues, Fernanda Abreu. Ultramen e Clube do Balanço, a exemplo de Menina Carolina (com Leleco), Grama Verde e Saudades de Jackson do Pandeiro (essa com Luís Vagner).

Read More
No balanço do suingue

— Por incrível que pareça, muita gente que mora em São Paulo e no Rio de Janeiro acredita que não existem negros no Rio Grande do Sul. De certa forma, a cultura negra do Sul é desconhecida até para quem vive aqui. É como se fôssemos invisíveis.

A constatação é de Kau Azambuja, um dos principais nomes da música negra sulista (fez parte de bandas como Produto Nacional e Senzala), que vai participar do Conversa de Rua neste sábado, 19/agosto, no Milonga, bar da Travessa dos Venezianos, na Cidade Baixa.

A iniciativa é do Rua da Margem, com a mediação do jornalista Paulo César Teixeira, editor do portal. No bate-papo, Kau vai relembrar a sua trajetória de vida e arte e dar canjas musicais.

Read More
Livro do Rua da Margem ganha Prêmio AGES 2020

O livro Rua da Margem – Histórias de Porto Alegre, de Paulo César Teixeira, editor do portal Rua da Margem, ganhou o Prêmio AGES 2020, da Associação Gaúcha de Escritores, na categoria Não-Ficção. Neste ano, a premiação contou com 157 inscritos. Em função da pandemia, a cerimônia de entrega aos vencedores foi realizada no formato on-line. em 30/11.

Rua da Margem – Histórias de Porto Alegre traz à tona uma Porto Alegre que pouco aparece por aí – a cidade do Barão da João Alfredo, do Ildo da Lanchera, do Sid do Bambu’s, da cantora Valéria, do Pé Palito, do seu Cláudio do Parangolé. Uma cidade plural e diversa, vaidosa de sua história e aberta à cena contemporânea.

— Estamos muito felizes e envaidecidos com a premiação. O livro está em sintonia com a ideia do portal Rua da Margem de destacar personagens e cenários de Porto Alegre que não aparecem com frequência na mídia mais tradicional — afirmou Paulo César, ao receber a premiação.

Read More
Heróis da resistência

Na terça-feira, dia 19/5, data de publicação do decreto da prefeitura de Porto Alegre que liberou a reabertura de bares e restaurantes, com restrições de distanciamento social por causa da covid-19, o Brasil ultrapassou pela primeira vez a marca de mil mortos no período de 24 horas por causa da pandemia.

Ainda que a Capital do RS apresente indicadores de um controle mais efetivo do avanço do novo coronavírus, em comparação com outras cidades brasileiras, principalmente das regiões Norte, Nordeste e Sudeste, uma parcela considerável de bares se recusou a voltar às atividades, apesar das dificuldades financeiras decorrentes do período de dois meses de quarentena.

Na lista dos que adotaram essa atitude, impressiona não apenas a quantidade, mas principalmente a representatividade dos estabelecimentos na cena noturna porto-alegrense.

— Vamos esperar para ver como essa abertura vai se refletir do ponto de vista epidemiológico. No momento, prudência é uma boa medida, até porque ainda não há clima para a boemia — diz Pepe Martini, que dirige o bar Guernica, junto com o pai, Roni, na Travessa dos Venezianos, na Cidade Baixa.

Outro bar que prosseguirá em compasso de espera é o Parangolé, referência de música ao vivo na Cidade Baixa.

— Apesar da situação relativamente tranquila em Porto Alegre, temos que pensar no restante do País, que mostra um quadro assustador — afirma Cláudio Soares de Freitas, o seu Cláudio, dono do Parangolé.

No dia da publicação do decreto, ele fez uma reunião online com a esposa Marta e os filhos (a jornalista Ana Laura e o violonista Thiago). A família decidiu por unanimidade não abrir o bar, entre outros motivos, para proteger Cláudio, que, apesar da saúde de ferro, aos 66 anos faz parte do grupo de risco da covid-19 por conta da idade.

— É verdade que não apresento doenças pré-existentes, mas até gente jovem tem morrido. De minha parte, não estou disposto a brincar com o vírus — pondera Cláudio.

Read More
Temporada no Sul

Filho de Taiguara, um dos compositores brasileiros mais destacados entre as décadas de 1960 e 1980, o carioca Samora Potiguara, de 37 anos, aproveita temporada na casa de parentes em Porto Alegre para mostrar seu trabalho musical nos bares da Cidade Baixa. Na sexta-feira, 18/10, por exemplo, ele faz show de voz e violão no bar Guernica, na Travessa dos Venezianos, 44, apresentando uma mistura original de MPB e soft rock e, claro, revisitando sucessos do pai.

Embora resguarde a consciência crítica acerca do mundo em que vive, a exemplo da obra de Taiguara, as canções de Samora apontam para múltiplas referências, que incluem desde a universalidade do som dos Beatles até o estilo progressivo de The Alan Parsons Project, passando pelo rock alternativo de Pearl Jam e bandas brasileiras dos anos 1980 como Barão Vermelho, Legião Urbana e Ira!.

— Fora isso, tenho a pretensão de agregar à música que faço elementos percussivos do candombe uruguaio e de outros batuques originários da África sem perder a pegada pop. A meu ver, o rock nada mais é do que a evolução de um processo musical que tem início na cultura africana.

Read More