Black is beautiful

Moda afro é o tema da 2ª edição da Conversa de Rua, debate aberto ao público promovido pelo Rua da Margem na Loja Profana da Cidade Baixa

À esq. e ao centro, peças da Consone (Dalto Campos/Divulgação); à dir., roupas da Clau Stampas (Fernando Pires/Divulgação)

Cores fortes e vibrantes, que contam histórias de vida.

É como a moda com origem na Mãe África se apresenta, pedindo passagem. Roupas e acessórios de marcas identificadas com símbolos e signos da cultura africana e afro-brasileira ganham cada vez mais visibilidade em vitrines e plataformas digitais. Falta agora abrir espaço para que os empreendedores ocupem o lugar que merecem na cadeia produtiva.

— Tudo que a gente faz é para mostrar que a pessoa negra tem uma beleza única. É para mostrar que a gente pode dar valor à nossa própria beleza, afirma Agossou Kokoye, o Kadi, natural do Benin, país da África Ocidental, dono da marca Consone, que produz camisas, vestidos, moletons e bermudas com estampas e tecidos africanos.

A moda africana e afro-brasileira é o tema da 2ª edição da Conversa de Rua, debate aberto ao público que será realizado no sábado, dia 15/6, às cinco da tarde, na loja da Profana na Cidade Baixa. Além de Kadi, também estará presente Cláudia Campos, da Clau Stampas, marca de roupas e acessórios produzidos com materiais ecológicos e estampas que valorizam a cultura afro-brasileira.

A iniciativa é do Rua da Margem, com apoio da Profana. A mediação será feita pelo jornalista Paulo César Teixeira, editor do portal.

black money

Criada em 2014, a Clau Stampas atende à demanda de um público crescente, que desperta a atenção de empresas de grande porte, que já estão tentando se apropriar de uma cultura que não lhes pertence, afirma Cláudia:

— Na moda, as pessoas buscam produtos com os quais se identificam, mas é importante saber de quem está se comprando e valorizar quem produz com autenticidade, diz ela.

Com formação em História e Design em Moda, Cláudia levanta a bandeira da representatividade negra no mundo da moda com conhecimento de causa. Além do viés étnico, a Clau Stampas trabalha ainda as questões de sustentabilidade, não só por utilizar tecidos produzidos a partir de fibra de garrafa pet e algodão reciclado, mas também pelo esforço de conscientização junto aos clientes acerca do fortalecimento da cadeia produtiva.

Ela chama atenção para o movimento black money (dinheiro negro), surgido nos Estados Unidos, que começa a ganhar força no Brasil. A expressão originalmente definia dinheiro ilegal, mas foi ressignificada pela comunidade negra para estimular o consumo de produtos e serviços produzidos por afrodescendentes.

 — Para a mulher negra, é mais difícil ter acesso aos meios que possibilitam realizar seus objetivos de vida. Como eu, muitas estão tentando driblar o racismo estrutural através do empreendedorismo.

Além de vender as peças em feiras, Cláudia atende a encomendas personalizadas no atelier da Rua Barão do Amazonas, no bairro Partenon, com prévio agendamento pelo WhatsApp. Nas próximas semanas, estará iniciando as vendas pelas plataformas da marca no Facebook e Instagram.

Lançada em 2017 com um desfile na Travessa dos Cataventos, na Casa de Cultura Mario Quintana, a Consone está prestes a inaugurar sua primeira loja. Estará localizada na Rua dos Andradas, 1664, sala 503, com previsão de abertura no início de julho. Até aqui, repartiu espaço com salões de cabeleireiras em dois ou três pontos comerciais do Centro Histórico.

Os tecidos usados pela Consone são importados de países como Angola, Costa do Marfim, Nigéria, Togo e Benin, sendo que boa parte do material é escolhido e enviado por Terese, mãe de Kadi, costureira de mão cheia por mais de 30 anos. A confecção das peças é feita por senegaleses radicados na capital gaúcha que Kadi contratou, já que ele próprio não tem qualquer intimidade com a tesoura.

— Meu negócio é cantar e dançar, afirma ele, com um sorriso no rosto.

Formado em Agronomia, com mestrado em Economia pela UFRGS, Kadi é também cantor e dançarino de afrobeat, já tendo se apresentado em eventos como o Dia da Consciência Negra no Largo Zumbi e excursionado pela Argentina. Mas, no momento, a carreira artística está em compasso de espera para que possa se dedicar integralmente à Consone. Assim que a marca estiver consolidada, a intenção é voltar aos palcos.

— Minha mãe sempre diz que caçador que quer caçar dois animais ao mesmo tempo não vai pegar nenhum, conclui ele, sabiamente.

Paulo César Teixeira